Não te vás embora
que o luar não tem hora
para ir dormir
Se te disserem que é a hora
de arrumar a loucura,
a hora de calçar as pantufas do medo
e o pijama da solidão
diz-lhes que o sonho não tem horário
e é quase uma criança a saltar ao eixo
ou um gato a trepar às estrelas
Diz-lhes que o sonho não tem horário
e que grita em nós como se fosse uma criança
com tudo a dizer e a pensar
Não te vás embora
que o mar tem hora
para se ir deitar
(...)
Não te vás embora
que nunca é tarde
para aprender a ser pétala
e se ficares que seja ao nosso lado
como quem se torna numa tulipa
e desafia a erva daninha.
Manuel José de Sá Correia, Sentado à tua mesa, Viseu, 1980