sábado, 22 de novembro de 2008

Parabéns Terrear!

Efectivamente é um excerto de um conto de Sophia, Praia, e encontra-se no seu livro Contos Exemplares. Não resisto em acrescentar o final:
"Agora cheirava a mar. Um perfume apaixonado de algas escorria das árvores. Lua e estrelas não se viam. Só se viam muros brancos no nevoeiro branco. Tudo estava imóvel e suspenso.
Só a voz do mar se ouvia, espantosamente real, recriando-se incessantemente.
E parecia que os grandes, verdes e violentos espaços marinhos, como sendo o nosso próprio destino, nos chamavam."

Surpresa ... e admiração!

Surpresa e admiração por aqueles que a partir de um pequeno texto, conseguem adivinhar quem está por trás destas palavras, belas!
A mim, tem-me cabido a tarefa, fácil, de escolher pequenos textos que vos têm agradado, espero! Foi uma forma que arranjei de cativar os meus primeiros visitantes. Só tenho a agradecer, estes pequenos momentos de comunicação, na minha Vida Suspensa, aos blogues Terrear, Talvez uma Península e Ao longe os barcos de flores.

Outro desafio...

(...)
Quase toda a gente se tinha ido embora, e o vazio pousava docemente nas mesas e nas cadeiras, enquanto a noite, com a grande sombra das suas árvores atravessadas pelo rumor do mar, entrava pla janela aberta.
E o homem que se tinha vindo sentar jnto de nós falava misturando as suas palavras com o tempo, com a noite, com o barulho do mar, com o respirar da brisa nas folhagens. E das suas palavras nascia uma grande imagem que se ia abrindo e desdobrando em inumeráveis espaços.
A sua sensibilidade era tão perfeita que até na própria madeira da mesa a sua mão pousava com ternura. Enquanto falava, abria espantosamente os seus olhos, que eram azuis como o azul de uma chama de álcool. E o seu olhar era desmedido e impessoal como se para além de nós ele olhasse outra coisa. Talvez:
A memória longínqua de uma pátria
Eterna mas perdida e não sabemos
Se é passado ou futuro onde a perdemos.
E, à medida que ele ia falando, a imagem que nascia das suas palavras ia-se tornando interior àqueles que o escutavam, com o mito. Ele era como um limite. Como um marco que dissesse :
"Daqui em diante o mar não é mais navegável".
(...)
Eu estava sentada na frente dele, do outro lado da pequena mesa. Ele esteve um longo tempo calado. Depois debruçou-se e disse:
-- Ouve:
There is a sea,
A far and distant sea
Beyond the farthest line,
Where all my ships that went astray,
Where all my dreams of yesterday
Are mine.
Lá fora as lâmpadas das ruas já se tinham apagado havia muito tempo.
(...)
Nota: Um excerto de um conto português. Surpreendam-me com o nome da autora e do conto.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Uma imagem que vale por mil palavras


Por um futuro risonho... por José Branco
www.olhares.com/josebranco

domingo, 16 de novembro de 2008

Acalanto de John Talbot

Dorme, meu filhinho,
Dorme sossegado
Dorme, que a teu lado
Cantarei baixinho.
O dia não tarda ...
Vai amanhecer:
Como é frio o ar!
O
Anjinho da guarda
Que o Senhor te deu,
Pode adormecer
Pode descansar,
Que te guardo eu.

Manuel Bandeira

sábado, 15 de novembro de 2008

Com o perigo de me tornar repetitiva ...

Estou só -- estás só. Não penses. Não fales. És em ti apenas o máximo de ti. Qualquer coisa mais do que tu te assumiu e rejeitou como a árvore que se poda para cresce. Que te dá pensares-te o ramo que se suprimiu? A árvore continua para fora da tua acidentalidade suprimida. O que te distingue e oprime é o pensamento que a pedra não tem para se executar como pedra. E as estrelas, e os animais. Funda aí a tua grandeza que te excede. (...) Como queres igualar-te ao imenso e imperscrutável? O dia acaba devagar. Assume-o e aceita-o. É a palavra da aeitação. Só os loucos e os iludidos a não sabem. Não sou louco. Não são horas da ilusão. Vou fechar a varanda. Tenho de ir avisar a Deolinda. É uma tarde quente de Agosto, ainda não arrefeceu. Pensa com a grandeza que pode haver na humildade. Pensa. profundamente, serenamente. Aqui estou. Na casa grande e deserta. Para sempre.
Fontanelas, 5 de Maio de 1982

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Aos amantes da palavra

Muito obrigada a todos os que participaram neste recente blogue. Vergílio Ferreira foi, efectivamente, o autor deste magnífico livro, Em Nome da Terra. Estão de parabéns os criadores dos blogues Talvez uma Península, Existente Instante, Terrear e Domus Librorum, não esquecendo, Ao longe os barcos de flores.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Em Nome da Terra

E vão sendo horas enfim de descermos o rio. Amanhã talvez? Hoje. Um dia. Estará uma noite quente, caminharemos de mãos dadas. O Anjo não virá, que teria lá de fazer? vamos nós. Não terei medo da tua presença com a toda a sua força de me fazer ajoelhar. Olharei o teu corpo na sua transparência incorruptível. Sofrerei em mim a descarga do universo e não gritarei o teu nome. Porque estará em mim e eu hei-de sabê-lo. A areia brilhará de uma luz pálida, pisá-la-emos devagar a um impulso fortíssimo e lento. Estaremos nus desde o início, sem vergonha anterior. Nudez primitiva, não a saberemos. Porque será uma nudez para antes de os deuses nascerem. Então mergulharemos nas águas do rio e deitar-nos-emos na areia. E olharemos o céu limpo e sem estrelas.E acharemos perfeitamente natural, porque a iluminação estará em nós. Erguer-nos-emos por fim e eu baixar-me-ei ao rio e trarei a água na concha das mãos. E derrámá-la-ei imensamente e devagar sobre a tua cabeça. E direi para toda a história futura, na eternidade de nós.
- Eu te baptizo em nome da Terra, dos astros e da perfeição.
E tu dirás está bem.
Lisboa, 29 de Dezembro de 1989
Final do romance Em Nome da Terra, de Vergílio Ferreira

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Juntos no caminho

Caminhar com amigos, ter tempo para estar, para conversar e, até, para partilhar o silêncio é um privilégio sem tamanho.

in Alves, Laurinda, Atitude XIS, Oficina do Livro

Encontros

Há pessoas que, só por cruzarem o nosso caminho na altura certa, fazem com que tudo fique mais certo em nós e à nossa volta. Mesmo quando não somos especialmente amigos ou quando nem sequer nos voltamos a ver.
in Alves, Laurinda, Atitude XIS. Oficina do Livro