sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

domingo, 18 de janeiro de 2009

Um ramo de urze e jasmim

"Era uma vez uma flor.
Nasceu à beira de um Poeta..."

Vês como é simples e linda?

Sebastião da Gama




"(...)
Da minha janela
vê-se a Poesia.

Não te digo, não,
se é bonita ou feia,
se é azul ou branca,
nem que formas tem
Sebastião da Gama







sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

O Regresso

"Casta, orvalhada da mesma frescura que humedecia a fruta nos seus pomares, Leiró acordava de uma grande noite de sono e de sonho. O primeiro fio de fumo subia já da lareira do João Rã, o madrugador da povoação. Erguia-se branco, preguiçoso, tímido da aragem fria da manhã. Mas, logo que chegava a céu aberto, tomava respiração, alargava os braços e diluía-se voluptuoso no éter perfumado do mar. Dos quinteiros nasciam vozes confusas da Babel animal. E da esquadria honesta dos portais, larga e franca, iam surgindo caras humanas e cristãs, levedadas para nova romaria de suor.
À distância de um tiro de espingarda, a medida que agora melhor conhecia, Ivo olhava e analisava aquele despertar. Sentado numa fraga de granito, a trouxa de roupa pousada ao lado, com o olho que lhe restava ia fotografando as fases sucessivas por que passava o casario e a vida da terra onde nascera. Talvez porque a via assim, só de um lado, precisamente o do coração, parecia-lhe que a entendia melhor agora, que a visão binocular de outrora destrinçava e empobrecia o sentido das cousas, incapaz de abraçar no mesmo amor o execrável e o santo."

De um escritor que se dirige desta forma aos seus leitores (Setembro de 1945): "Tomei o compromisso em teu nome, o que quer dizer em nome da própria consciência colectiva. Na tua ideia, o que escrevo, como por exemplo estas histórias, é para te regalar e, se possível for, para te comover. Mas quero que saibas que ousei partir desse regalo e dessa comoção para te responsabilizar na salvação da casa que, por arder, te deslumbra os sentidos".

Espero a vossa participação!

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

La fête avec Chagall

Viens, fais la fête
Viens dancer toujours
Célébrer l'amour
Séche tes larmes
Regarde autour de toi
Souris à n'importe quoi
Il faut toucher les choses
Bois ton vin
Sens tes roses
Suis les mots, du poète
Prends la vie
Fais la fête
Viens, vis la valse
Vis l'éclat des jours
Viens chanter l'amour
Ouvre tes portes
Reçois la vie chez toi
Gonfle ton coeur de joie
Il faut toucher les choses
Bois ton vin
Sens tes roses
Suis les mots, du poète
Prends la vie
Fais la fête

Rodrigo Leão

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

La Fête

domingo, 4 de janeiro de 2009

Novo Ano, Novo desafio...

"Lembro perfeitamente a tarde quieta em que parei à porta da pensão, para tomar um quarto sem refeições: chambre à louer. Puxei a argola de latão da campainha e esperei alguns instantes. A porta abriu-se e vi aparecer uma mulher forte, rosada, loira e mal penteada, com um avental de riscado azul, por sinal um pouco enxovalhado. Sorriu e acolheu-me cordialmente.
(...)
Anoitecia cedo, e eu sufocava de tristeza e nostalgia. Ainda não tinha tido tempo de fazer amizades, os meus trabalhos de laboratório estavam indecisos, e em vão tentava interessar-me pela gente com quem, ocasionalmente, entrava em contacto. Saía de manhã, sem sol, e reentrava ao prematuro entardecer. Tinha levado anos a sonhar com a independência, que nunca usufruíra, a meu gosto, e agora, senhor de mim, sentia-me de repente incapaz de usar dela. (...)
A verdade, não tardaria a sabê-lo, é que a liberdade pessoal e o sossego se pagam em silêncio, tributo o mais pesado. Por contraditório que pareça, só a presença de outros seres humanos acorda em nós as reacções que nos forçam a pensar, a mobilizar os conhecimentos, e a agir. Isto explica como é que eu nunca consegui viver sozinho nem longe -- duas coisas que desejava ardentemente.
(...) Mas esta dialéctica da misantropia (ou timidez) não será demasiado especiosa para ti, Léah?"
Pequenos trechos de um conto de um autor português da década de trinta, démodé.

Sables mouvants de Jacques Prévert

Démons et merveilles
Vents et marées
Au loin déjà la mer s'est retirée
Démons et merveilles
Vents et marées
Et toi
Comme une algue doucement carressée par le vent
Dans les sables du lit tu remues en rêvant
Démons et merveilles
Vents et marées
Au loin déjà la mer s'est retirée
Mais dans tes yeux entrouverts
Deux petites vagues sont restées
Démons et merveilles
Vents et marées
Deux petites vagues pour me noyer

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

A um desconhecido

198? - Agosto, Vila Flôr, Trás-os Montes: entrámos numa quinta, parecia deserta. Perto da casa, apareceu um senhor, ainda jovem. Tomava conta da quinta. Nós gostaríamos de comprar vinho daquela região. Ainda não estava na época, mas que entrássemos. Seguimo-lo. O senhor pegou em duas garrafas, pô-las dentro de um saco e ofereceu-nas. Agradecemos. À saída ainda encheu um saco de maçãs.

http://terrear.blogspot.com/2009/01/s-para-os-amigos.html
No mesmo mês de Agosto, Vila Nova de Mil Fontes: chegámos tarde ao parque de campismo, montámos a tenda. Quatro da tarde e estávamos cheios de fome. Apercebemo-nos, pelo cheiro que, mesmo ao lado do campo, havia uns quiosques com comida. Fomos lá e, sem muitas explicações, mandaram-nos sentar e servir-nos do que estava na mesa. Trouxeram-nos pratos, talheres e perguntaram-nos o que queríamos beber. Bem, lá comemos e bebemos e, entretanto, descobrimos que estávamos no final de uma mostra gastronómica de caldeiradas de peixe. No final, desejaram-nos uma boa estadia. As caldeiradas estavam todas uma delícia!

199?, Sábado de manhã, Lisboa, Chiado, parquímetros para pôr moedas e, apenas uma nota de 500 escudos na carteira. Olho em volta mas nenhum café para trocar dinheiro. Aproximo-me do parquímetro e pergunto a um senhor se me trocava a nota. O senhor abriu a mão, com bastantes moedas e disse:"-- Tire as que quiser!" Insisti, para trocar a nota, mas em vão. O senhor justificou que gastava bastante dinheiro em estacionamento, todas as semanas que aquele que ele me estava a dar não lhe iria fazer diferença.
A estes desconhecidos só me resta agradecer a lição de vida que me deram ...

Almada, 1 de Janeiro de 2009

De onde se vê o Tejo ...

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009