quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Em Nome da Terra

E vão sendo horas enfim de descermos o rio. Amanhã talvez? Hoje. Um dia. Estará uma noite quente, caminharemos de mãos dadas. O Anjo não virá, que teria lá de fazer? vamos nós. Não terei medo da tua presença com a toda a sua força de me fazer ajoelhar. Olharei o teu corpo na sua transparência incorruptível. Sofrerei em mim a descarga do universo e não gritarei o teu nome. Porque estará em mim e eu hei-de sabê-lo. A areia brilhará de uma luz pálida, pisá-la-emos devagar a um impulso fortíssimo e lento. Estaremos nus desde o início, sem vergonha anterior. Nudez primitiva, não a saberemos. Porque será uma nudez para antes de os deuses nascerem. Então mergulharemos nas águas do rio e deitar-nos-emos na areia. E olharemos o céu limpo e sem estrelas.E acharemos perfeitamente natural, porque a iluminação estará em nós. Erguer-nos-emos por fim e eu baixar-me-ei ao rio e trarei a água na concha das mãos. E derrámá-la-ei imensamente e devagar sobre a tua cabeça. E direi para toda a história futura, na eternidade de nós.
- Eu te baptizo em nome da Terra, dos astros e da perfeição.
E tu dirás está bem.
Lisboa, 29 de Dezembro de 1989
Final do romance Em Nome da Terra, de Vergílio Ferreira

3 comentários:

JMA disse...

Deveria ser Vergílio Ferreira, mas não me recordo de ter lido este fragmento lindíssimo. Mas o sabor é claramente vergiliano...
Quando chegar a hora da revelação gostarei de saber...
Entretanto vou colocar um bocadinho no terrear e fazer a hiperligação... obrigado pelo convite e parabéns.

José Caseiro /Mª Alice Silva disse...

Sim, parece um excerto de "Em Nome da Terra", de Vergílio Ferreira ... Será?

Amélia disse...

QUE BOM QUE COLOCOU AQUI O FINAL DE UM DOS MAIS BELOS LIVROS DE V.F. - entre todos os outros qye ele escreveu e tão belos quanto este, o para Sempre,etc.