sábado, 22 de novembro de 2008

Outro desafio...

(...)
Quase toda a gente se tinha ido embora, e o vazio pousava docemente nas mesas e nas cadeiras, enquanto a noite, com a grande sombra das suas árvores atravessadas pelo rumor do mar, entrava pla janela aberta.
E o homem que se tinha vindo sentar jnto de nós falava misturando as suas palavras com o tempo, com a noite, com o barulho do mar, com o respirar da brisa nas folhagens. E das suas palavras nascia uma grande imagem que se ia abrindo e desdobrando em inumeráveis espaços.
A sua sensibilidade era tão perfeita que até na própria madeira da mesa a sua mão pousava com ternura. Enquanto falava, abria espantosamente os seus olhos, que eram azuis como o azul de uma chama de álcool. E o seu olhar era desmedido e impessoal como se para além de nós ele olhasse outra coisa. Talvez:
A memória longínqua de uma pátria
Eterna mas perdida e não sabemos
Se é passado ou futuro onde a perdemos.
E, à medida que ele ia falando, a imagem que nascia das suas palavras ia-se tornando interior àqueles que o escutavam, com o mito. Ele era como um limite. Como um marco que dissesse :
"Daqui em diante o mar não é mais navegável".
(...)
Eu estava sentada na frente dele, do outro lado da pequena mesa. Ele esteve um longo tempo calado. Depois debruçou-se e disse:
-- Ouve:
There is a sea,
A far and distant sea
Beyond the farthest line,
Where all my ships that went astray,
Where all my dreams of yesterday
Are mine.
Lá fora as lâmpadas das ruas já se tinham apagado havia muito tempo.
(...)
Nota: Um excerto de um conto português. Surpreendam-me com o nome da autora e do conto.

3 comentários:

Teresa Lobato disse...

Hummm, nunca li, mas fiquei com vontade! Um excerto lindíssimo, sem dúvida.
Desta vez não sei, Sara :(
Fico a aguardar outros comentários.

Beijo

Amélia disse...

Também não sei...surpreenda-me

JMA disse...

Arrisco Sophia, mas quase no escuro. Fico com a vida um pouquinho suspensa até que alguém a ilumine.