Já viajámos de ilhas em ilhas
já mordemos fruta ao relento
repartindo esperanças e mágoas
por tudo o que é vento.
já ansiámos corpos ausentes
como um rio anseia pela foz
já fizemos tanto e tão pouco
Que há-de ser de nós?
Que há-de ser do mais longo beijo
que nos fez trocar de morada
dissipar-se-á como tudo em nada?
Que há-de ser só nós o sabemos
Pondo o fogo e a chuva na voz
repartindo ao vento pedaços
que hão-de ser de nós.
Já avivámos brasas molhadas
no caudal da lágrima vã
e flutuando a Lua nos trouxe
à luz da manhã.
Reencontrámos lágrima e riso
demos tempo ao tempo veloz
já fizemos tanto e tão pouco
que há-de ser de nós?
Que há-de ser da mais longa carta
que se abriu peito alvoroçado
devolver-se-á: "Endereço errado?"
(...)
Que há-de ser só nós o sabemos
pondo o fogo e a chuva na voz
repartindo ao vento pedaços
que hão-de ser de nós.