domingo, 15 de fevereiro de 2009

"Uma canção espantosa", observa Júlio Machado Vaz, no seu livro O Sexo dos Anjos (Novembro de 1991), cantada por um não menos espantoso cantor, poeta, trovador português, acrescento eu.
Espero que gostem e, se possível, descubram a versão com música.

Desafio VI

Já viajámos de ilhas em ilhas
já mordemos fruta ao relento
repartindo esperanças e mágoas
por tudo o que é vento.

já ansiámos corpos ausentes
como um rio anseia pela foz
já fizemos tanto e tão pouco
Que há-de ser de nós?

Que há-de ser do mais longo beijo
que nos fez trocar de morada
dissipar-se-á como tudo em nada?

Que há-de ser só nós o sabemos
Pondo o fogo e a chuva na voz
repartindo ao vento pedaços
que hão-de ser de nós.

Já avivámos brasas molhadas
no caudal da lágrima vã
e flutuando a Lua nos trouxe
à luz da manhã.

Reencontrámos lágrima e riso
demos tempo ao tempo veloz
já fizemos tanto e tão pouco
que há-de ser de nós?

Que há-de ser da mais longa carta
que se abriu peito alvoroçado
devolver-se-á: "Endereço errado?"

(...)

Que há-de ser só nós o sabemos
pondo o fogo e a chuva na voz
repartindo ao vento pedaços
que hão-de ser de nós.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Para descobrir durante o fim de semana

Agradeço e dou os parabéns aos que participaram, no último desafio - Célia, Existente Instante e outros que têm estado sempre presentes nestas brincadeiras. Conhecimento e perspicácia caracterizam-nos. Espero que continuem a participar e que gostem desta escolha.

Desafio V

"Sem saber se o tempo existia, se aquele desfilar durara um segundo ou cem anos, se existia um (...) ou um Gautama, um Eu e outros, profundamente ferido por uma seta divina que lhe causava prazer, profundamente fascinado e exaltado, Govinda permaneceu ainda um momento inclinado sobre o rosto pacífico de (...), que acabara de beijar, o rosto que fora o palco de todas as formas presentes e futuras. O seu semblante não se modificara, depois do espelho das mil formas se ter apagado da superfície. Sorria pacífica e ternamente, talvez muito graciosamente, talvez muito ironicamente, tal qual como o Sábio sorrira.
Govinda fez uma vénia profunda,enquanto lágrimas incontíveis lhe deslizavam pelo rosto velho. Avassalava-o um sentimento de grande amor, da mais humilde veneração. Inclinou-se muito, até ao chão, defronte do homem imóvel, cujo sorriso lhe recordava tudo quanto jamais fora valioso e santo na sua vida."
Final de um clássico. Ao contrário dos outros é um autor estrangeiro. As reticências substituem o nome da personagem que dá o nome ao livro.